março 2010
Estamos percorrendo, sob o olhar do Pai, tendo diante dos olhos o testemunho de amor radical do Filho e encorajados pelo Espírito Santo, os caminhos penitenciais da Quaresma. Tempo fecundo de conversões mais decididas, mais fortes, que nos permitam desenvolver na alma, derramando-se sobre a vida cotidiana, uma espiritualidade robusta, viril. Conversões que nos reergam da banalidade medíocre e muito pobre de um relacionamento comercial e interesseiro com Deus. Conversões que nos levem a uma experiência interior forte da presença e do amor de Deus em nossa vida. Conversões que nos levem à "admiração" diante do Amado Senhor de nossa vida, diante d Aquele que constantemente nos chama a uma intimidade amorosa, no silêncio e na contemplação do seu divino rosto, na escuta atenta de sua voz!Poderíamos, buscando estas conversões, fazer nossas as palavras do santo homem Jó, no término de seu diálogo com Deus: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora meus olhos te vêem: por isso, retrato-me e faço penitência no pó e na cinza!" (Jó 42,5-6).
Claro está que o próprio Senhor vem em nosso auxílio, com sua divina graça, sua luz, sua energia, para podermos aprofundar estas conversões todas e avançarmos no itinerário da maturidade espiritual a que Ele nos convida. É no âmago desta maturidade que reencontramos, com alegria, a sã e sólida doutrina que orienta nossa fé, redimensiona nossa esperança e reaviva o fogo da nossa caridade, levando-nos a superar os modismos novidadeiros que neutralizam a força da sã doutrina e buscam substituí-Ia pelas assim ditas novas e atualizadas normas éticas. Que trágica atitude dos que assim se apresentam como “evoluídos” e, cegos, não se dão conta de que apregoam a morte inglória de suas próprias almas, abandonando a força da doutrina do Evangelho, tal como a Igreja nos propõe e abraçando os atalhos vazios de uma moral da situação, de uma relativização dos mais sagrados princípios da verdadeira ética cristã, de um subjetivismo arrogante. Lamentavelmente encontramos dentro da própria Igreja, em dias de hoje, os defensores desta “nova ordem moral” que pretende "desorientar" as consciências (é esta a palavra certa), levando-as a endossar o “se você acha bom e gosta, então não é pecado e Deus não vai nem olhar para isto!”. O critério de formação da consciência deixa de ser a Verdade revelada e passa a ser a vontade humana!
Aqui está uma das urgentes e difíceis conversões que devemos procurar nesta Quaresma: romper o cerco deste relativismo moral, que gera uma degradação humana muito triste, e adentrar, pelos princípios de uma ascese adulta e evangélica, as “águas mais profundas” de uma mística que de fato nos leve aos encontros com a Pessoa Divina do Senhor Jesus! O Senhor Jesus nos encoraja a romper com o consumismo materialista, com a idolatria do lucro pelo lucro, com o hedonismo escravizador, e a nos deixar conduzir pelo Espírito Santo ao “deserto” de Deus, santuário do nascimento do “homem novo”. Neste deserto Deus qual divino ourives, vai burilando nossa alma com o cizel das provações, dos sofrimentos que nos parecem sem sentido e sem razão, das dores do corpo e da alma, plasmando em nós o perfil do "filho, da filha de Deus e irmão, irmã, de todos os homens!
Por este deserto de Deus nos conduz o Espírito Santo santificador, em meio a causticantes noites escuras, ao encontro da LUZ e da VIDA que explodem definitivamente no coração seduzido, na Páscoa da Ressurreição levando-nos a entoar, com Maria, nossa Mãe e com a Igreja inteira, os ALELUIAS da vida nova em Cristo Ressuscitado.
+ D. Fr. Alano Maria Pena OP
Arcebispo Metropolitano de Niterói
(Arquidiocese de Niteroi)
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